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Crédito minguado nos bancos abre espaço para fintechs

11/01/2017

O cenário de restrição de crédito e taxas de juros nas alturas acabou favorecendo canais de empréstimos alternativos aos grandes bancos, como o crédito on-line. O produto oferecido por plataformas digitais tem sido uma opção para os consumidores, especialmente os que buscam refinanciar dívidas sob taxas e prazos mais favoráveis.

Novatas, as plataformas digitais resistem a oferecer números. Estimativas do mercado apontam que um grupo de dez a 12 companhias emprestou R$ 300 milhões em 2016. O volume é uma gota no mar de empréstimos feitos pelos bancos tradicionais, cujas concessões em crédito pessoal (sem incluir consignado) chegaram a quase R$ 6 bilhões apenas em novembro, último dado disponível no Banco Central. Mas é considerado expressivo quando se considera que foi gerado por um grupo de empresas de tecnologia – as “fintechs” de crédito – que em sua maioria não completou dois anos de vida.

O movimento também é monitorado com lupa pelas grandes instituições financeiras, atentas ao potencial do setor. “Outras fintechs de crédito vão surgir”, diz Fernando Mirandez Del Nero Gomes, sócio do Pinheiro Neto, escritório de advocacia que assessorou na montagem plataformas digitais como Biva, Simplic e Lendico.

Segundo Gomes, especialista em direito bancário, financeiro e cambial, os grandes bancos estão se mexendo não só para adquirir, mas também para atrair pessoal qualificado das fintechs para suas operações digitais. “Não diria que já há um movimento de consolidação do setor, mas, à medida que essas fintechs começam a incomodar, não tem como negar que isso vai acontecer.”

Especializado em crédito com garantia, o BankFacil começou as operações em 2013 e afirma que vem triplicando a sua carteira de crédito a cada ano desde então, chegando a R$ 100 milhões em 2015. A fintech já levantou R$ 30 milhões de fundos de venture capital como RedPoint e.Ventures, Quona Capital, QED e Kaszek Ventures.

Com cerca de três meses de vida, a Noverde, voltada para crédito à classe C, diz que ainda é cedo para falar em tamanho de carteira. Em dois meses, registrou 6,5 mil pedidos de créditos, em um total de R$ 15 milhões.

Eduardo Teixeira, diretor da Noverde, afirma que a empresa iniciou suas operações com uma taxa de aprovação de crédito abaixo de 5%, já alcançou a casa dos 10% e tem como meta chegar aos 20% em três meses. Entre as razões de recusa do crédito, diz ele, se destacam o comprometimento de renda e o nome sujo, mas não descarta oferecer crédito para este último tipo de cliente mais à frente.

As plataformas citam o clássico movimento de troca de dívida mais cara por mais barata como um motor importante a puxar o negócio. Sandro Reiss, fundador da Geru, que começou a operar no início de 2015, diz que o cenário de crise impôs desafios para todo o setor de crédito, on-line ou não, mas o aumento da restrição da oferta dos bancos e elevação de taxas acabaram atraindo clientes para as fintechs. A consolidação de dívidas, diz ele, foi o carro-chefe a fundamentar os empréstimos. Segundo Reiss, cerca de 60% dos tomadores recorreram ao empréstimo para refinanciar dívidas mais caras.

“A pessoa ia no piloto automático e tomava empréstimo no próprio banco. Com o aumento de taxas e a restrição de crédito pré-aprovado, vimos mais clientes desse tipo virem para a Geru”, diz Reiss, que identifica ainda um efeito boca a boca importante, de tomadores que tiveram uma boa experiência com outras fintechs de crédito e perderam o medo de experimentar.

O foco das plataformas é bastante diversificado. Na Noverde, é o cliente da classe C. Os empréstimos têm tíquetes entre R$ 1 mil e R$ 5 mil, com prazos de seis, nove e 12 meses. Os juros variam entre 4,5% e 9,3% ao mês – o que significa algo entre 70% e 180% ao ano. A taxa média é de 100% ao ano.

Também voltada à pessoa física, a Geru se dispõe a emprestar de R$ 2 mil a R$ 35 mil, com prazos de 12 a 36 meses. O foco, diz Reiss, não é necessariamente o cliente mais abastado, mas aquele que tem histórico de crédito e está buscando operação compatível com a sua renda. O empréstimo típico é de R$ 11 mil, com prazo de dois anos e taxas que variam de 25% a 80% ao ano, dependendo do score de crédito – o perfil – do cliente. As taxas de serviço, cobradas no momento em que o empréstimo é liberado, são de cerca de 5% do valor do empréstimo.

Os executivos reconhecem que taxas máximas de juros de 80% a 100% ao ano não podem ser consideradas baratas, mas estão distantes das taxas de mercado, em média de 137,9% ao ano no crédito pessoal, e de 331%, também ma média anual, no cheque especial. Com foco nas classes mais altas, o BankFacil oferece crédito com garantia. Se a garantia for um imóvel, explica o presidente, Sergio Furio, a taxa cobrada é de um 1,15% a 1,45% ao mês mais IPCA – o que representa uma taxa anualizada que começa em 21%, considerando uma inflação de 7% no ano. A taxa de serviço adiciona 0,1 ponto ao mês a esse total.

No caso do veículo como garantia, as taxas são fixas e variam de 2% a 3,1% ao mês, mais 0,2 ponto ao mês de taxa de serviço. O volume médio emprestado é de R$ 150 mil no caso do imóvel como garantia e de R$ 17 mil no caso do veículo. “No veículo, o recurso é usado principalmente para matar as dívidas caras”, diz Furio. “O consumidor paga tudo e fica com produto a custo menor.”

No geral, a concessão desse tipo de crédito ocorre sem muita burocracia. O cliente baixa o aplicativo ou entra no site da fintech e em alguns minutos, com base em dados como o seu CPF, já sabe se o crédito foi ou não pré-aprovado. Passada essa etapa, é preciso preencher um cadastro mais longo, além de fornecer dados da conta bancária e uma foto feita pelo celular mesmo. Em no máximo dois dias o crédito é liberado.

Reiss, da Geru, diz que é preciso cuidado ao escolher uma fintech de crédito. “São pequenas coisas que fazem toda a diferença. Há algo errado com sites que não mostram a taxa efetiva paga pela pessoa ou que não têm certificado de segurança no canto do navegador e CNPJ da empresa.”

Todas as fintechs de crédito operam em modelos parecidos de negócio: funcionam como correspondentes bancários que atuam em parceria com uma instituição financeira, conforme exige a lei. No mais comum deles, o tomador emite Cédulas de Crédito Bancário (CCB) tendo o banco como originador do título. As fintechs ficam com a gestão da cobrança dos empréstimos.

Gomes, do Pinheiro Neto, avalia que o regulador tem se mostrado aberto a discutir e entender o fenômeno e tem olhado as novas empresas de tecnologia de forma aberta. Para ele, é possível que a discussões sobre o modelo se intensifiquem neste ano, podendo até se pensar em uma independência maior com relação às instituições financeiras em um futuro próximo.

Fonte: Valor Econômico - http://www.contabeis.com.br/noticias/31396/credito-minguado-nos-bancos-abre-espaco-para-fintechs/

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